Receita de vó cura mesmo? Especialistas do Hospital São Camilo SP explicam
Remédios caseiros para gripe, dor de garganta, terçol e má digestão estão entre as receitinhas de antepassados que perpetuam até hoje
Seja para curar um resfriado, acabar com a azia e má digestão ou mesmo ajudar a cicatrizar feridas, toda família tem aquela receitinha de vó que perpetua por gerações.
Mas, afinal, canja de galinha ajuda mesmo a recarregar as energias? Batata crua reduz a azia? Neste mês em que se comemora o Dia dos Avós, especialistas da Rede de Hospitais São Camilo SP esclarecem sobre estas e outras dicas propagadas por nossos antepassados e que já fazem parte da cultura popular.
A famosa canja de galinha da vovó, por exemplo, considerada um alimento capaz de melhorar a imunidade e curar gripes e resfriados, encontra fundamentos na medicina devido às suas propriedades nutricionais.
Segundo Tatiana Bononi, nutricionista do Hospital São Camilo SP, a receita pode atuar como um “fortificante” para o organismo. “Além de ser uma refeição saudável e leve, ideal quando o corpo precisa se recuperar de uma doença ou infecção, o frango, ao ser cozido, libera uma substância que auxilia na expectoração dos líquidos pulmonares”, reforça. Ela afirma ainda que a canja é rica em proteínas, vitaminas, sais minerais e carboidratos.
Da mesma forma, o chá de casca de cebola, uma receita antiga para melhorar a imunidade e ajudar a combater gripes e resfriados, tem fundamentos devido às propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes do alimento.
“Ao fazer um chá com esta parte da cebola, usufruímos das ações analgésicas, vasodilatadoras e antivirais, já que a casca tem maior concentração de vitaminas e minerais. E é, geralmente, a parte que as pessoas descartam”, destaca a nutricionista.
Outra dica que encontra unanimidade entre os especialistas é o chá de boldo. A planta, de sabor amargo, é especialmente eficaz no tratamento de problemas digestivos.
De acordo com o gastro-proctologista Henrique Perobelli, que também atua na Rede São Camilo SP, além de ter função diurética, o boldo reduz a acidez gástrica e é bastante utilizado em pacientes com esteatose hepática.
O médico também esclarece que o costume de ingerir batata crua, recomendação comum entre os mais idosos para aliviar sintomas da má digestão, pode ser tranquilamente seguido por pessoas que sentem azia ou cólicas estomacais.
“A batata, assim como a maçã, banana ou melão, são alimentos ótimos para diminuir dores e desconfortos no estômago, pois contam com propriedades que ajudam a reduzir o PH gástrico”, explica.
O tubérculo ainda é conhecido por muitas pessoas como um recurso para aliviar as dores da enxaqueca. O neurologista Paulo Nakano frisa que a batata crua e gelada possui características que ajudam a reduzir os sintomas e pode ser utilizada sem contraindicações.
“Quando ocorre a enxaqueca, os vasos sanguíneos sofrem uma dilatação, aumentando a circulação do sangue na região onde há dor. Assim, a estrutura espessa e flexível da batata se ajusta bem ao local e consegue manter a região fria por mais tempo, reduzindo o calibre dos vasos”, salienta.
A saúde dos olhos também sempre foi alvo de inúmeras receitas caseiras, seja para a cura do terçol ou de qualquer irritação. Nesses casos, a oftalmologista da Rede de Hospitais São Camilo SP Renata Rabelo traz algumas orientações.
Segundo ela, a melhor forma de reduzir qualquer irritação nos olhos ou conjuntivite é lavando a região com água filtrada gelada.
“Não se usa mais a água boricada como se fazia antigamente, pois hoje sabemos que algumas pessoas podem apresentar reações alérgicas, piorando o quadro. Também não orientamos o uso do soro fisiológico, pois o sal da formulação pode causar ardências”, detalha.
Por fim, muitas pessoas seguem a dica da vovó de encostar um anel nas pálpebras para curar o terçol. A médica revela que o hábito dos nossos antepassados não é uma mera simpatia.
“Um dos tratamentos para o terçol é justamente fazer compressas mornas sobre o olho. Então, se alguém tira um anel do dedo e encosta ali, o metal aquecido pode ajudar a reduzir os sintomas”, cita dra. Renata, lembrando que é importante que o objeto precisa estar higienizado para evitar infecções.
O mesmo ocorre no caso do uso do açúcar para cicatrizar feridas. A dermatologista Ana Célia Xavier explica que, embora atualmente existam outros recursos para cuidar de um machucado, a receita fazia sentido.
“Ao colocar uma boa quantidade de açúcar, preferencialmente do tipo cristal, em cima de um corte, seus grãos irão absorver a umidade do local, reduzindo os riscos de proliferação de bactérias”, finaliza.