Geração Z pauta transformações no mercado de coquetelaria
Especialista destaca comportamentos que impactam o setor, como consumo consciente, diversidade e transparência
A cada nova geração, surgem novos comportamentos e experiências que transformam também os hábitos de consumo. Neste sentido, diversos setores de mercado têm desenvolvido ações para atender a Geração Z, incluindo o setor de bebidas. Prova disso, uma pesquisa da IWSR, divulgada no primeiro trimestre de 2022, relata que as vendas de produtos com baixo teor alcoólico ou zero álcool tiveram um salto de US$ 2,2 bilhões nos últimos quatro anos.
Especialista em varejo, comportamento do consumidor e shopper, Fátima Merlin, destaca algumas características dessa geração, formada por pessoas nascidas no final dos anos 1990 e na primeira década dos anos 2000, que vão além do apreço por tecnologia e da classificação como ‘nativos digitais’.
“Estes consumidores, no geral, valorizam a individualidade e tendem a evitar rótulos; tomam decisões e se relacionam de uma forma altamente analítica, apreciam a ética, a veracidade e a transparência; acreditam no diálogo como forma de resolver conflitos e melhorar o mundo; e se mobilizam por uma variedade de causas, sendo mais propensos a se associarem a marcas que correspondam aos valores fundamentais de sustentabilidade, ambientalismo e igualdade”.
Para estreitar o relacionamento com esse público, o mercado, no geral, também precisa estar atento às estratégias de comunicação. Neste caso, Merlin afirma, “o consumidor da geração Z espera autenticidade e diversidade. Mais de 60% deles preferem anúncios com pessoas comuns e coisas do cotidiano do que o uso de celebridades e, 82% confiam mais na empresa se ela usa imagens de consumidores reais nas campanhas”. Esse grupo valoriza ainda mais a diversidade e inclusão e afirma deixar de comprar de empresas que não atuam de acordo com esses valores. É um consumidor ainda mais exigente, seletivo, altamente conectado e com expectativas elevadas”.
Por conta disso, este perfil tem pautado novas iniciativas de empresas e estabelecimentos, entre elas, maior transparência e responsabilidade social. Na coquetelaria não é diferente, tem impulsionado desde a chegada de novos produtos e receitas e promovido mudanças na maneira de consumir. Bartender do bar Picco, Gabriel Ometto revela que o perfil dos “novos” consumidores é mais aberto às experimentações e não foca apenas em um tipo de bebida ou drink e que tal comportamento tem sido cada vez mais comum.
“Essa geração tem um maior controle do quanto vai consumir e consciência da relação com o álcool, considerando os malefícios para a saúde quando se passa de um certo limite. Em várias ocasiões, este público pede um drink e uma garrafa de água para equilibrar. Ao mesmo tempo, aquele cliente que não está introduzido na coquetelaria e não conhece as opções no mercado está mais aberto a experimentar coisas novas. É comum até pedir uma bebida para afirmar que, de fato, não gosta dela”, explica Ometto.
Vale destacar que os drinks não alcóolicos também estão em alta e ganhando cada vez mais espaço, com receitas mais elaboradas e como opção para quem não quer consumir bebida alcoólica em determinada ocasião, mas não abre mão de ter uma experiência rica em coquetelaria.
Já com relação ao preço, uma das características desse público é a disposição a pagar mais caro por um drink para satisfação da vontade, ou seja, o valor, muitas vezes, não é fator decisivo para a escolha, mesmo que isso signifique consumir menos. De acordo com Ometto “os preços de cada bebida, podem até fazer com que o consumo seja menor, mas não influenciam diretamente na decisão, até porque todos consomem o que podem pagar”.
Para a embaixadora do BCB São Paulo, Carolina Oda, os consumidores jovens não têm a mesma relação que as gerações anteriores com as bebidas consideradas refinadas. “A gente cresceu vendo em programas de televisão, como filmes e novelas, que era chique tomar dry martini quando chegava em casa. Este tipo de imagem e comportamento não dialoga com a geração Z”, destaca.
Além dos profissionais dos balcões, a indústria também tem desenvolvido produtos que geram identificação com os jovens. “O movimento do mercado de bebidas é voltado para diversas faixas etárias, com comunicações bem distintas. No caso dos mais novos, as empresas investem em produtos com outros tipos de embalagem, como coquetéis em lata, enfim algo visualmente mais jovem e colorido, e bebidas mais leves, que não tenham como destaque o sabor e a característica marcante do álcool”, explica Carolina.
Programada para os dias 21 e 22 de junho, a edição presencial do BCB São Paulo trará um panorama atual da coquetelaria, destacando temas de mercado como este, além de lançamentos, receitas e outros assuntos voltados aos profissionais do setor. Consumo consciente, por exemplo, será um dos motes do evento e também um dos objetivos da organização, que disponibilizará comunicados, conteúdos e água grátis para os participantes.