Desmistificando os produtos zero lactose: mitos e verdades
Por Liz Galvão, nutricionista parceira da Verde Campo*
A lactose e pessoas intolerantes a ela é uma temática que vem ganhando espaço entre nutricionistas, médicos e a população geral que é acometida por essa condição.
O Instituto Nacional de Saúde dos Estados Unidos realizou um estudo a partir do qual estima que 75% da população global tenha intolerância à lactose. Já no Brasil, segundo o Instituto Datafolha, esse percentual é de, ao menos, 35%.
Em poucas palavras, uma pessoa intolerante à lactose é aquela que tem a incapacidade de digerir a lactose, o açúcar do leite, por alguma deficiência na produção corporal da enzima lactase, que é a responsável por quebrar a lactose nas suas menores partes – galactose e glicose – para então serem absorvidas no intestino.
A boa notícia é que a oferta de produtos sem lactose está crescendo e qualquer pessoa intolerante ou não pode consumi-los e desfrutar de vários benefícios:
A digestão do alimento sem lactose é mais fácil e melhor quando comparada à de um laticínio tradicional;
Previne o surgimento de sintomas gastrointestinais como gases, distensão abdominal, cólicas, diarreias, constipação;
É mais adocicado naturalmente (já que a galactose e glicose isoladas são mais doces do que a lactose intacta), ou seja, reduz a necessidade de adicionar outros açúcares às preparações feitas com produtos sem lactose;
Reduz a inflamação intestinal e sistêmica (no corpo todo), já que facilita a nossa digestão;
Cria um leque de possibilidades de consumo de laticínios por parte das pessoas que têm intolerância.
O cerne da questão é: os intolerantes devem priorizar o consumo de produtos sem lactose, independentemente do grau da intolerância, visto que a quantidade de lactose nos alimentos lácteos não é a mesma. Uma forma de descobrir isso é consumir pequenas porções de cada tipo de laticínios e observar como o seu corpo reage ao consumo de cada um deles.
Ainda existem muitas falácias em torno da lactose, vou trazer alguns mitos e desmistificá-los:
A lactose é uma proteína: mito. Ela é a porção de carboidrato de açúcar do leite;
A lactose causa alergia: mito. Existe uma diferença entre alergia e intolerância. A alergia alimentar é uma reação adversa imunológica causada por alimentos específicos que podem causar manifestações intestinais, cutâneas (na pele), respiratórias e até sistêmicas, isto é, no corpo como um todo. Normalmente temos alergia alimentar à fração proteica dos alimentos como: leite, trigo, amendoim, peixes, crustáceos, soja, ovo, nozes, entre outros. Já as intolerâncias alimentares não são mediadas pelo sistema imunológico diretamente, ou seja, são reações adversas causadas por certos alimentos/nutrientes, tendo como principais sintomas os relacionados ao trato gastrointestinal. Diferente das alergias, o que costuma causar uma intolerância alimentar é uma sensibilidade à fração de carboidrato do alimento, por exemplo, à lactose (que é o açúcar do leite). Em outras palavras, quem é alérgico ao leite de vaca tem alergia a alguma proteína desse alimento (como caseína, alfa-lactoalbumina e beta-lactoglobulina), diferentemente de quem é intolerante, que tem intolerância à lactose;
Tenho intolerância à lactose, nunca mais poderei consumir laticínios: mito. Hoje existe uma gama de produtos sem lactose no mercado e que podem ser inseridos de forma equilibrada na alimentação do dia a dia. Você não precisa necessariamente excluir esses alimentos da sua rotina.
Não tenho intolerância à lactose então não posso consumir produtos sem lactose: mito. Mesmo sem ter intolerância você pode inserir produtos sem lactose na sua rotina, mesclando o consumo com os laticínios tradicionais. Os produtos sem lactose possuem uma digestão mais fácil, além de serem mais adocicados.
Toda intolerância à lactose é igual: mito. Existem três tipos de intolerância à lactose. O primeiro é a deficiência congênita da enzima, quando você já nasce sem a enzima. É um caso mais raro, e uma deficiência genética; O segundo tipo é a diminuição enzimática secundária a doenças intestinais (quando você tem uma redução da produção da enzima devido a alguma doença que cause uma lesão no seu intestino). E, por fim, a deficiência primária, o tipo mais comum, o mais normal, que é a redução da produção da enzima lactase com o avançar da idade.
Se você faz parte da população intolerante à lactose, pode ter hábitos alimentares normais, graças aos produtos específicos que estão no mercado. Se você não tem essa condição, pode mesclar em sua alimentação iogurtes, queijos e lácteos sem lactose e aproveitar o melhor dos dois mundos.